4 de junho de 2010

Artigo: E o nepotismo, há quantas anda?

Nepotismo (no dicionário) significa ,"protecionismo", "favoritismo", conceder o governante, a parentes, amigos ou correligionários, qualquer favorecimento.

Isso para o Aurélio (dicionário), agora, para outro aurélio (este mesmo com letra minúscula, pelo menos para esses mesmo governantes a quem nos referíamos acima) significa muito além disso. Este aurélio, (com letra minúscula), um dia sonhou em pertencer ao quadro de funcionários públicos de seu município, então, estudou, e passou em um CONCURSO PÚBLICO (este com letra maiúscula), quanto orgulho do aurélio.....agora sim podia organizar – sua vida, criar seu filhos, pagar suas contas e servir com dignidade ao seu país.

Sua trajetória foi de motivação, ou seja, de auto motivação, estudou mais, se especializou, mestrado, doutorado e assim se passavam os anos, e Aurélio, no serviço público...fazia parte de todas as comissões,levava trabalho para casa, e a família reclamava !!!Acreditava realmente que ser SERVIDOR PÚBLICO era estar a serviço da coletividade, do povo, da gente de seu país... dessa forma ser merecedor de cada centavo (diga-se de passagem centavos mesmo, pois seu salário...) que a administração pública lhe pagava, e na sua cabeça (parece que única) centavo vindo do trabalhador, da gente humilde de sua terra. Aí então é que ele trabalhava!!! Precisa ser merecedor e oferecer serviços públicos em excelência!.

Mas algo lhe incomodava muito: por mais que estudasse, fosse íntegro e ter adentrado o serviço público por méritos (pelo menos como manda a lei, através de concurso público), aurélio seguia seus anos de “servidão pública” sempre subordinado a alguém indicado politicamente e o pior de tudo, incompetente, politiqueiro e sem compromisso algum com a coisa pública .

Até que por algumas poucas vezes Aurélio foi convidado para exercer alguma função de confiança, porém seu senso ético não permitiu, pois haveria de abrir mão de seus posicionamentos, contra a corrupção, a ingerência e o descaso com o que é do povo... preferia permanecer ali, trabalhando e quem sabe um dia ser reconhecido por isso, com uma administração publica séria, para ele e para o povo !!!

Mas aí veio a Lei Antinepotismo nos três níveis da administração pública: união, estados e municípios e Aurélio novamente se alegrou... pensou consigo mesmo: bom, pelo menos não precisarei acatar ordens abusivas e me sentir vigiado pelo sobrinho do prefeito ou pelo cunhado do vereador da base de governo do secretário !!!

É realmente as coisas parecem que andam prá frente !!! O que precisamos entender e talvez devêssemos saber explicar é que o principio da isonomia e da impessoalidade na administração pública são pilares essenciais á sua concretude, e diferentemente da coisa privada, não devem ser negociados.

Se alguém tiver uma loja de calçados e quiser contratar seu genro para gerente, pois bem, contrate, este negócio visa lucro, no fim se isso não ocorrer problema é de família...

Na administração pública, não estamos buscando lucro, e sim oportunidades e igualdades de direito, conquistas sociais....

Pois bem , se o governante tiver liberdade absoluta para escolher seu gerente, e este não o der resultados, quem paga o prejuízo não é o dono ???Lembram-se quem são os “donos” da administração pública??? O POVO, que sempre paga a conta no final!!!

Ahhhh, eles precisam nomear pessoas de confiança !!!Quase me esqueci!!!MAS CONFIANÇA DE QUEM ?????Não entendi !!!

Com certeza, e com toda a tristeza, Aurélio chega ao fim de sua servidão pública, ainda crendo, que apesar de todas as dificuldades, o concurso público ainda parece ser a única forma de garantir o combate ao nepotismo e ao uso da máquina pública para atender interesses políticos que vão contrários aos do interesse dos cidadãos e do país. O concurso público é uma ferramenta da democracia e não pode ser perdida.

O sentimento de injustiça que assola os servidores públicos de carreira, que se vêem usados pela gestão amadora, que por muitas vezes os colocam em posição hierárquica inferior, com salários menores, gratificações ínfimas e subjulgados a apadrinhados que sugam seus conhecimentos, experiências e trajetória no serviço público, levam os mesmos a um processo de adoecimento mental, anestesia institucional e muitas vezes a um quadro de total anemia frente a tudo que se passa.

AURÉLIO, maiúsculo sim... agora entendeu que maiúsculo ele é !!!! POIS MINÚSCULO, É A IMORALIDADE, O DESCOMPROMISSO, E A FORMA CRIMINOSA COMO ALGUNS PODERES CONTINUAM A FAZER PARA MANTEREM SEUS COMPARSAS E APADRINHADOS DEBAIXO DE SUA PROTEÇÃO, ENQUANTO OS SERVIDORES DE CARREIRA (NA MAIORIA DELES) LEVAM O PAÍS NAS COSTAS........

Aurélio entendeu que muitos mantêm vínculos precários de trabalho, contratados sem nenhum tipo de direito trabalhista e assim permaneciam anos e anos... não era desses que AURÉLIO dizia e sim daquele indicado a princípio politicamente e assim permanecia, sem estudar, sem melhorar e fazer jus ao cargo que ocupava !!!

Era realmente uma pena...

E para Aurélio restava agora cantarolar em sua aposentadoria e esperar....”quero minha cidade toda ensolarada.....quero que a justiça reine em meu país “...

Maria Angela Conceição Martins é Mestre em Saúde Coletiva pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Especialista em Saúde Pública e Gestão Pública em Saúde pela UFMT. Vice Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Cuiabá (SISPUMC) e Conselheira no Conselho Municipal de Saúde de Cuiabá.
Servidora pública concursada há 14 anos em Cuiabá e há 10 anos no município de Santo Antônio de Leverger

Um comentário:

Mariana Gouveia disse...

E eu,Mariana,com letras maiúsculas continuo cantando aqui:O menino e o povo no poder, eu quero ver...
Doido pra ver o meu sonho teimoso,um dia se realizar.
E que, os Aurélios,
Mariângelas,Cláudias,Marias,Josés possam enfim atender com dignidade.

Assino embaixo em tudo que li e concordo e sonho e acredito no ideal que seguimos.
Acredito sim.