19 de abril de 2012

Entrevista: ‘Gestão deve dialogar com população’,diz Lúdio

Praticamente certo como candidato do PT à eleição, o vereador Lúdio Cabral dispensa ser vice e se coloca como o único a fazer oposição na Câmara da Capital.

KAMILA ARRUDA


Com discurso de candidato, o vereador Lúdio Cabral (PT) não poupa palavras para tecer críticas sobre a atual administração de Cuiabá. Segundo ele, o prefeito Chico Galindo (PTB) pratica uma administração desqualificada, visando somente ao interesse econômico.

Partindo de preceito, Lúdio afirma que a Capital precisa de uma mudança de gestão pública, já que nos últimos anos viveu turbulências em diversas áreas.

Para ele, o PT é o partido que conseguirá promover a mudança de que a Capital precisa, pois é a única legenda a promover oposição ferrenha ao atual Executivo municipal.


Diário de Cuiabá - Com o apoio apenas de uma chapa do seu colegiado, como vai funcionar o processo de pré-candidatura no PT?

Vereador Lúdio Cabral – Embora, pela atual correlação de forças, nós tenhamos uma maioria consolidada para aprovar a tese da candidatura própria e do meu nome como pré-candidato a prefeito, nós vamos insistir no diálogo com todas as forças do PT para ter uma posição de unidade e de consenso, para que o PT vá unido para a disputa das eleições em Cuiabá.


Diário - E com relação a possíveis alianças?

Lúdio – O PT tem um arco de alianças em nível nacional, e com uma base programática nós iremos abrir uma agenda de diálogo com os partidos que dão sustentação ao nosso no governo nacional, mesmo que esses partidos hoje apresentem pré-candidaturas, e respeitamos todas essas pré-candidaturas que os partidos estão apresentando, nós temos o dever de buscar diálogo com a representação que sustenta o nosso governo nacional, para formação de alianças. Agora, o PT terá candidato a prefeito de Cuiabá.



Diário – Há chance de uma coligação com o PMDB ou PR, que já possuem candidatos anunciados?

Lúdio - Existe uma possibilidade de aliança com todos os partidos que estão na base da presidenta Dilma. Agora, a tese da candidatura própria, consolidada hoje no PT, não permite qualquer outra posição que não seja o PT na cabeça-de-chapa.


Diário - A ex-senadora Serys Marly manifestou interesse em entrar na disputa. Como estão as conversações com ela?

Lúdio - Eu tenho uma relação muito respeitosa com a Serys, muito positiva. Nós estivemos juntos no processo eleitoral de 2010, já tive um diálogo pessoal com ela sobre o processo eleitoral de 2012. Como ela não está o tempo todo em Cuiabá, por conta de agenda importante de preparação para o Brasil no Rio+20, tenho dialogado quase que diariamente com representantes da chapa da Serys, para buscar a construção desta unidade e de consenso. Hoje, embora não tenhamos ainda 100% do PT defendendo a candidatura própria e meu nome, as teses que foram apresentadas não foram conflitantes, e elas apontam para essa possibilidade de consenso e unidade. E é o diálogo que eu estou fazendo, com a Serys e com os militantes da ‘Articulação de Esquerda’ e da ‘Socialista’, para que cheguemos ao encontro em 22 de abril com uma posição de consenso. Essa é a expectativa que nós temos.


Diário – O senhor já possui um plano de governo?

Lúdio - Essa é a essência do programa de governo que nós queremos apresentar e aprofundar no diálogo com a cidadania, os movimentos sociais, com a população trabalhadora e todas as pessoas que sofrem com as políticas públicas de Cuiabá.


Diário - E quais serão as principais bandeiras adotadas?

Lúdio – Saúde! Eu sou médico sanitarista, milito no SUS há mais de 20 anos, desde que ingressei na universidade para estudar Medicina. Nós temos um sistema de saúde que entrou em colapso em Cuiabá. Nós temos uma gestão deficiente, onde os trabalhadores da Saúde são desvalorizados sistematicamente pelos sucessivos governos, onde a população também não é chamada a participar da definição de como os serviços de saúde vão funcionar. Aquelas experiências positivas que estão acontecendo no país não chegam a Cuiabá. Esta não tem núcleo de apoio à Saúde da Família, só tem uma farmácia popular, não tem unidade de pronto-atendimento, não tem o Brasil Sorridente, não tem o SOS Emergência, que esta solucionando os problemas das grandes emergências no país em parceria com grandes centros de excelência nessa área, por conta da inércia da gestão, do descaso de um governo que não tem compromisso com a cidade. Nós estamos em vigência de uma epidemia de dengue, não há o trabalho de prevenção na cidade, de limpeza da cidade, e também não há a organização dos serviços de Saúde para atender a população que hoje sofre com essa epidemia. Então, a Saúde é a prioridade. Agora, a Saúde com um conceito ampliado, por ela, envolve, por exemplo, você trabalhar nas comunidades, mudanças substanciais que afetem equipamento de lazer, de cultura, de oportunidade para as crianças, para juventude ocupar seu tempo. O saneamento básico, que é um grave problema da nossa cidade. Não dá pra falar em Saúde sem a solução dos problemas de saneamento básico. Cuiabá já poderia ter solucionado esses problemas se tivesse utilizado de forma responsável os recursos do PAC. Mais de R$ 300 milhões à disposição da cidade. Há quatro anos, Cuiabá poderia ter superado os problemas do saneamento, e não fez isso, fez uma opção desqualificada, pautada apenas no interesse econômico, no interesse de poucos, que é essa opção da privatização. Nós vamos retomar o serviço de saneamento pra gestão municipal, porque entendemos que há qualificação técnica no quadro de trabalhadores da companhia de saneamento. O que não dá é pra política de saneamento ser tratada como moeda de barganha política e de acomodação de apadrinhados políticos dos prefeitos que passam pela cidade. Isso tem que acabar. O saneamento tem que obedecer dois critérios, a gestão técnica e o compromisso público, e nós acreditamos que, com a retomada desse serviço pelo município, nós consigamos utilizar os recursos públicos federais, que estão à disposição hoje tanto o PAC I quanto o PAC II, como também outras modalidade de acesso a recursos que estão à disposição das cidades, para melhorar a vida da nossa população.



Diário - O senhor luta desde o princípio contra a concessão da Sanecap. Já chegou a impetrar diversas ações judiciais. Como está o andamento delas?

Lúdio - Foram quatro ações judiciais para impedir a privatização. Uma ação nós ganhamos, duas nós perdemos e ainda temos outra em andamento, aguardando decisão judicial. Agora, se daqui até dezembro nós não conseguirmos evitar a privatização, a partir do dia 1° de janeiro de 2013 retomamos o saneamento como política pública, como responsabilidade da cidade, do prefeito, porque é possível organizar serviços de qualidade na área de saneamento com aquilo que a Sanecap arrecada hoje. Nós não precisaríamos ter a falta de água que existe hoje em Cuiabá se houvesse uma gestão pública técnica, porque há problemas que são solucionáveis com medidas simples. Só que, como não há na direção da  Sanecap e na administração da cidade, compromisso público e qualificação técnica, esses problemas vão se avolumando, aprofundando e gerando esse caos que virou o abastecimento de água em Cuiabá.


Diário - Caso a concessão dê certo, não teme que essa luta contra pode virar contra o senhor?

Lúdio - Não existe a possibilidade de a água tratada como mercadoria ser oferecida como direito à população. Cuiabá já sofre com a energia canalizada para implementar na marra esse processo de privatização. Se nesse tempo, a energia da prefeitura, do prefeito, da administração da cidade, fosse canalizada para solução dos problemas de saneamento, nós  estaríamos em uma situação muito melhor do que a em que estamos hoje. E nada garante que daqui a sete meses os problemas do saneamento serão resolvidos. Ao contrário, a tendência é de que esses problemas se agravem. O que está muito claro é o que está por trás, ou seja, o que conduz a privatização do saneamento em Cuiabá é o interesse econômico privado, não é o direito da população em ter água de qualidade todos os dias na sua casa, e a ter esgoto coletado e tratado.


Diário - Uma breve avaliação da administração do atual prefeito Chico Galindo.

Lúdio - Nós temos em Cuiabá um modelo de administração que desqualifica aquilo que é público, pautado no interesse privado, econômico e financeiro de poucos. Uma administração que não consegue estabelecer canais de diálogo com o governo do Estado, com o governo federal para aplicar aqui políticas públicas de qualidade, que estão à disposição dos municípios para serem aplicadas. Uma administração que nega essas políticas públicas, e deveria fazer ao contrário, deveria abraçar essas políticas públicas e trazer essas políticas para serem implementadas em Cuiabá. Eu citei anteriormente exemplos dessas políticas para a Saúde, mas esses exemplos podem se estender para áreas de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, para a geração de empregos, para várias outras áreas da política pública. Portanto, é um governo que precisa ser substituído. Cuiabá precisa de uma mudança na forma como ela é conduzida e governada. Não dá mais para continuar com esse padrão de governo que vem sempre apresentado para a sociedade nos últimos oito anos. E tem um detalhe, o PT é o único partido hoje, que faz oposição sistemática e propositiva ao governo da cidade, todos os outros partidos que têm representação na Câmara participam de uma forma ou de outra dessa administração. Portanto, só nós, por conta do acúmulo que construímos, teríamos condições de produzir mudanças de verdade na realidade de Cuiabá.


Diário - Neste início de ano, Galindo tem lançado vários projetos e está investimento em sua imagem com propagandas. Contudo, afirma que não é candidato à reeleição. O senhor acredita que isso pode ser estratégia?

Lúdio - Eu não posso falar das intenções do atual prefeito em disputar ou não a eleição. Agora, a população de Cuiabá está cansada de propaganda em véspera de eleição que depois não se realiza. Nós já pagamos um preço muito alto quando a cidade elegeu um candidato que fez promessas salvadoras que não se realizaram. Época de campanha vem com medidas de propaganda, de maquiagem da dificuldade para dizer que estão fazendo alguma coisa, para apenas no período eleitoral tentar convencer a população. Daí a necessidade da população, ao buscar escolher quem vai governar Cuiabá em 2013, olhar o caminho que cada candidato percorrer, olhar a trajetória dos partidos que defendem esses candidatos, os vínculos desses partidos com os governos sucessivos que Cuiabá teve para identificar quem, de fato, representa mudança. Porque todo mundo vai querer se apresentar como mudança, mas a mudança de verdade a população tem que ter muita consciência para identificar nos projetos que vão ser apresentados. Eu acredito que o PT tem o dever de apresentar uma alternativa a Cuiabá, dialogada com a população da própria cidade, com administração construída por meio do diálogo com a população da própria cidade, para mudarmos radicalmente a forma como a cidade é governada.


Diário - Tramitam na Câmara duas CPIs de teor polêmico, que é a que investiga a dívida da Sanecap com a Cemat e a que apura o superfaturamento no prédio da Casa. Qual sua opinião sobre elas?

Lúdio - A CPI que investiga o superfaturamento da reforma está trabalhando, já foi feita uma pericia técnica por entidades isentas. E essa perícia demonstra que houve superfaturamento, agora a CPI tem o dever de ouvir todos os envolvidos nessa reforma, para produzir um relatório consistente que aponte responsabilidades e punição para quem tiver culpa nesse processo.


Diário - Você acredita que o vereador Deucimar Silva (PP) tem culpa nesse processo?

Lúdio - A CPI terá que responder a isso, porque ela está trabalhando com todas as informações, com todos os dados de forma responsável. Irá ouvir todas as pessoas que tiveram relação com a reforma, para que, a partir daí, produzir um relatório. Agora, que houve um superfaturamento, está comprovado que houve. Cabe à CPI identificar quem são os responsáveis por isso. Já com relação à CPI da Cemat, ela não foi instalada na prática ainda e, por isso, ainda não começou a trabalhar, mas eu espero sinceramente que não seja apenas uma promessa, que ela vá a fundo. Eu defendi durante todo o ano passado uma CPI para investigar toda a destinação dos recursos que a Sanecap arrecadou. A Sanecap arrecadou em 2010 quase R$ 100 milhões. Com esse valor, você teria todas as condições de melhorar substancialmente o abastecimento de água em Cuiabá. Porque há problemas que dependem de soluções que custam R$ 800, R$ 1.000, R$ 2.000 Quem arrecada R$ 100 milhões por ano tem que ter condições de, pelo menos, ampliar a rede de distribuição de água e manter a água com regularidade para a população.

http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=408821&edicao=13269&anterior=1

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