Por Telma Cenira Couto da Silva
Um dia desses eu procurei me lembrar quando foi a primeira vez que uma névoa cinzenta se abateu sobre mim. Não tive dúvida: foi numa manhã de outubro de 1971. Naquele dia terminaram as famosas feijoadas feitas por vovó Chiquita, as alegres reuniões familiares em fins-de-semana, os almoços freqüentados por políticos, intelectuais, e grandes nomes do Direito da época, e algumas noites de serestas com a boemia. Alegre e festiva: assim era a casa de tia May (pronuncia-se Maí), nascida Ana Maria do Couto. O apelido, May, foi-lhe dado por seu irmão, tio Renato. Em sua época ninguém conhecia a Ana Maria, apenas a May do Couto.
Nas reuniões em casa de tia May, vovó Chiquita era a responsável pelo almoço, e tia Nenê, irmã de vovó Chiquita- que desde que ficara viúva morava em casa de sua sobrinha-, pelas sobremesas: furrundu, doce de caju, doce de laranja, com as frutas colhidas no quintal da casa. Eu adorava ver a preparação de tudo enquanto balançava à sombra de um cajueiro.
Tia Nenê era dona de uma risada inesquecível: estava sempre brincando e provocando a sisudez de vovó Chiquita, que, à moda antiga, ficava horrorizada quando ela dizia que queria se casar novamente. Vovó dizia para a irmã: “viúva decente não casa outra vez!” Tia Nenê ria e respondia: “estou procurando um marido; assim que eu achar, eu vou casar!” E de vez em quando ela dizia: “eu vou casar com o Dutra (o ex-presidente Eurico Gaspar Dutra) e você será a madrinha, Chiquita”. Vovó balançava a cabeça e respondia: “uma mulher dessa idade falando uma coisa dessas”, e amuada, deixava o recinto. Tia Nenê morria de rir. As “brigas” das duas eram uma diversão na família. Não cheguei a conhecer o meu avô- já que este faleceu antes que seus netos nascessem-, mas era elegante e charmoso de acordo com suas fotos. Por ser muito séria, vovó Chiquita era a vítima da brincadeira de todos: dizem que ela ficava muito brava quando vovô cantarolava a música “Chiquita Bacana” para ela.
Tive uma infância muito feliz em Cuiabá: muitas brincadeiras com os vizinhos do Mundeuzinho - minha casa-, e da Comandante Costa- na antiga casa de tia May-, e minha outra casa. Quando acabava a luz à noite íamos para a rua para esperá-la voltar. Para passar o tempo, contávamos e ouvíamos histórias. As minhas preferidas eram as contadas por tia Nenê. O fato dela ter se casado por procuração e ter ido se encontrar com o marido em Corumbá, numa viagem de barco, enchia a minha imaginação. Eu quase torcia para que acabasse a luz quando eu estava em casa de tia May para ouvir as histórias de tia Nenê. Muitas vezes íamos dormir à luz de velas: luz? só no outro dia. Para amenizar o calor as janelas dormiam abertas!
Mais reservada, vovó Chiquita mais ouvia do que contava histórias, porém, eu nunca me esqueci de uma que ela contou. Acho que ocorreu na Guerra do Paraguai, mas eu não posso atestar a veracidade do fato. Ela contou sobre uma batalha em que um antepassado nosso participara. Sob uma saraivada de balas, o seu pelotão estava com medo de avançar. Então, ele disse: “eu vou”. E levantou-se do seu esconderijo para avançar, quando levou uma bala na testa. Eu perguntei: “o que aconteceu?” E ela respondeu: “ora, ele morreu”. Ao que retruquei: “então ele foi burro!” E ela falou: “não, ele foi corajoso. Ele ficou conhecido por sua bravura”. E complementou: “nunca se esqueça que descendemos de gente corajosa”. Naquele breu, essa história pareceu-me horripilante. Com cinco filhos para cuidar e um marido extremamente boêmio- que ela estoicamente agüentou em nome da tradição da época-, acho que nunca sobrou muito tempo para aflorar o seu romantismo. Eu certamente preferia as histórias da tia Nenê, que eram de fazer inveja aos escritos de José de Alencar.
Há cerca de 30 anos atrás vovó Chiquita foi com a minha família a um sítio na região do pantanal. Alguns familiares foram passear a pé pelas redondezas quando ouviram o barulho de um animal em movimento, provavelmente uma rês. E só por brincadeira, alguém disse a ela que deveria ser uma onça! Ela disse: “então vocês corram que eu espero aqui; enquanto ela me come, vocês se salvam”. Essa era a minha avó Chiquita: meio ranzinza, não muito simpática, mas de uma coragem e firmeza de caráter admirável. Ela nunca imaginou o presente que me deu naquela noite escura. Em diversos momentos difíceis da minha vida, eu me lembrei da frase de vovó Chiquita: “nunca se esqueça: nós descendemos de gente corajosa”. De cabeça erguida, eu me mantive em pé nas batalhas que tive que enfrentar. Sem medo.
Tia May herdou a coragem, a determinação, e a tez morena de vovó Chiquita. E os olhos esverdeados, a eloqüência, a presença cativante, e o gosto pela boemia do seu pai, vovô Hermínio. Meu aprendizado com ela começou cedo. Ainda não tinha dez anos de idade quando eu pedi a ela um dinheiro para ir ao cinema. Pensei comigo: “vou pedir dinheiro só para o cinema, mas quem sabe ganho também um extra para a pipoca e o chocolate”. Ela olhou-me e me disse: “pedir dinheiro é uma coisa muito feia. Você tem que propor um trabalho para ganhá-lo.” Fiquei com muita vergonha. Emudeci. Então ela falou: “meu carro precisa ser lavado e meu escritório precisa ser arrumado. Você pode escolher o que prefere fazer”. Achei que lavar o carro seria mais divertido: e ganhei o dinheiro para o cinema, a pipoca e o chocolate. O meu primeiro emprego foi o de lavadora de carro! Posteriormente, passei à arrumação do escritório, e, quando estava um pouco “mais velha”, fazia um serviço aqui, outro acolá. Aos doze anos comprei o meu primeiro sutiã: com o meu dinheiro. Ele servia mais de enfeite, mas eu me senti muito, muito importante. Ao arrumar o escritório, comecei a folhear alguns dos seus livros, apenas por curiosidade. Após algum tempo tornei-me uma ávida leitora dos livros de literatura que lá se encontravam, principalmente dos românticos. Dos 13 aos 15 anos foi a época em que eu mais li em minha vida. Não lia menos que um romance por semana. Infelizmente, com o tempo esse hábito foi arrefecendo, e há muito tempo eu leio apenas jornais e revistas. Livros? só os relacionados à minha profissão. Os livros literários estão à minha espera em minha biblioteca: quem sabe alguma hora eu me anime a arrumá-los!
Mas, tia May também me “estragava”, como dizia meu pai. Em minha infância eu não conseguia ficar parada e era bem magra. Quando tia May estava em casa, e eu estava por lá, eu ficava “sem fome”. Preocupada com a minha falta de apetite, ela me perguntava o que eu estava com vontade de comer. Como naquela época não havia serviço de entrega, ela pegava o carro e me levava para comprar o almoço em algum dos pouquíssimos restaurantes existentes. Eu ficava muito feliz. E quando havia um prato em sua casa que eu gostava, ela telefonava e avisava que ia buscar-me para almoçar lá. Papai era linha dura e dizia que deveríamos comer o que estava à mesa. Com o tempo- e estudando num colégio ao lado de sua residência-, passei a almoçar cada vez com mais freqüência em sua casa durante a semana. Só de vez em quando eu “filava a bóia em casa”. Porém, aos domingos, papai fazia questão da família reunida, fosse onde fosse.
Tia May matava a minha mãe de susto quando aparecia num final de tarde para levar a mim e a minha irmã para tomar banho no rio Coxipó. Mamãe não queria ser estraga-prazer, mas ficava apavorada com medo de ocorrer algum incidente no rio. Ela sempre dizia à sua irmã: “cuide bem das minhas crianças”. E só parava de rezar quando nós voltávamos para casa. Quando tia May buzinava o seu carro em frente de casa e dizia “vistam os seus maiôs”, era uma festa!
Uma manhã de outubro levou para sempre a minha amada tia e as alegrias que ela- e a convivência em sua casa-, me proporcionava. A partir dessa data começou uma nova etapa em minha vida. O grande apoio nesse momento difícil veio do meu pai, que com a tranqüilidade de um homem pantaneiro, repetia: “tem que tocar a vida para a frente.” A minha mãe, que herdou a tez clara de vovô Hermínio e que possui expressivos olhos azuis, sempre foi uma mulher do lar: caseira, séria, e avessa às badalações, como vovó Chiquita. A morte da sua irmã abalou-a muito, mas o seu esposo- a quem era extremamente devotada-, estava ao seu lado. Isso tornou o seu fardo mais fácil. Porém, há pouco mais de 10 anos, o meu pai também partiu. Completamente dependente dele, ela não estava preparada para enfrentar as vicissitudes da vida sem o seu apoio. Mas, após algum tempo em que a tristeza e o desespero se abateram sobre ela, o sangue de vovó Chiquita correndo em suas veias mostrou toda a sua força. Ela tem sido uma guerreira.
Durante muitos anos, quando o mês de outubro começava, eu sentia uma certa melancolia. Até que um dia, uma tarantella veio se misturar ao meu rasqueado, e outubro trouxe para mim a maior alegria da minha vida: a minha filha, neta de cuiabanos tchapa e cruz, e de italianos, pelo lado paterno. Finalmente o sol voltara a brilhar para mim em outubro.
À minha “italianinha” cuiabana eu costumo dizer: “respeite a terra da Revolução Farroupilha - que também faz parte de sua história-, mas valorize este solo, onde jazem pessoas que amamos e que nos amaram. Nunca se esqueça: nós descendemos de gente corajosa! Que a coragem e a retidão de caráter sejam a sua herança.”
PS: À tia May (Ana Maria do Couto), pelos 40 anos do seu passamento, ocorrido em 17 de outubro de 1971.
Telma Cenira Couto da Silva, doutora em Astronomia
Um dia desses eu procurei me lembrar quando foi a primeira vez que uma névoa cinzenta se abateu sobre mim. Não tive dúvida: foi numa manhã de outubro de 1971. Naquele dia terminaram as famosas feijoadas feitas por vovó Chiquita, as alegres reuniões familiares em fins-de-semana, os almoços freqüentados por políticos, intelectuais, e grandes nomes do Direito da época, e algumas noites de serestas com a boemia. Alegre e festiva: assim era a casa de tia May (pronuncia-se Maí), nascida Ana Maria do Couto. O apelido, May, foi-lhe dado por seu irmão, tio Renato. Em sua época ninguém conhecia a Ana Maria, apenas a May do Couto.
Nas reuniões em casa de tia May, vovó Chiquita era a responsável pelo almoço, e tia Nenê, irmã de vovó Chiquita- que desde que ficara viúva morava em casa de sua sobrinha-, pelas sobremesas: furrundu, doce de caju, doce de laranja, com as frutas colhidas no quintal da casa. Eu adorava ver a preparação de tudo enquanto balançava à sombra de um cajueiro.
Tia Nenê era dona de uma risada inesquecível: estava sempre brincando e provocando a sisudez de vovó Chiquita, que, à moda antiga, ficava horrorizada quando ela dizia que queria se casar novamente. Vovó dizia para a irmã: “viúva decente não casa outra vez!” Tia Nenê ria e respondia: “estou procurando um marido; assim que eu achar, eu vou casar!” E de vez em quando ela dizia: “eu vou casar com o Dutra (o ex-presidente Eurico Gaspar Dutra) e você será a madrinha, Chiquita”. Vovó balançava a cabeça e respondia: “uma mulher dessa idade falando uma coisa dessas”, e amuada, deixava o recinto. Tia Nenê morria de rir. As “brigas” das duas eram uma diversão na família. Não cheguei a conhecer o meu avô- já que este faleceu antes que seus netos nascessem-, mas era elegante e charmoso de acordo com suas fotos. Por ser muito séria, vovó Chiquita era a vítima da brincadeira de todos: dizem que ela ficava muito brava quando vovô cantarolava a música “Chiquita Bacana” para ela.
Tive uma infância muito feliz em Cuiabá: muitas brincadeiras com os vizinhos do Mundeuzinho - minha casa-, e da Comandante Costa- na antiga casa de tia May-, e minha outra casa. Quando acabava a luz à noite íamos para a rua para esperá-la voltar. Para passar o tempo, contávamos e ouvíamos histórias. As minhas preferidas eram as contadas por tia Nenê. O fato dela ter se casado por procuração e ter ido se encontrar com o marido em Corumbá, numa viagem de barco, enchia a minha imaginação. Eu quase torcia para que acabasse a luz quando eu estava em casa de tia May para ouvir as histórias de tia Nenê. Muitas vezes íamos dormir à luz de velas: luz? só no outro dia. Para amenizar o calor as janelas dormiam abertas!
Mais reservada, vovó Chiquita mais ouvia do que contava histórias, porém, eu nunca me esqueci de uma que ela contou. Acho que ocorreu na Guerra do Paraguai, mas eu não posso atestar a veracidade do fato. Ela contou sobre uma batalha em que um antepassado nosso participara. Sob uma saraivada de balas, o seu pelotão estava com medo de avançar. Então, ele disse: “eu vou”. E levantou-se do seu esconderijo para avançar, quando levou uma bala na testa. Eu perguntei: “o que aconteceu?” E ela respondeu: “ora, ele morreu”. Ao que retruquei: “então ele foi burro!” E ela falou: “não, ele foi corajoso. Ele ficou conhecido por sua bravura”. E complementou: “nunca se esqueça que descendemos de gente corajosa”. Naquele breu, essa história pareceu-me horripilante. Com cinco filhos para cuidar e um marido extremamente boêmio- que ela estoicamente agüentou em nome da tradição da época-, acho que nunca sobrou muito tempo para aflorar o seu romantismo. Eu certamente preferia as histórias da tia Nenê, que eram de fazer inveja aos escritos de José de Alencar.
Há cerca de 30 anos atrás vovó Chiquita foi com a minha família a um sítio na região do pantanal. Alguns familiares foram passear a pé pelas redondezas quando ouviram o barulho de um animal em movimento, provavelmente uma rês. E só por brincadeira, alguém disse a ela que deveria ser uma onça! Ela disse: “então vocês corram que eu espero aqui; enquanto ela me come, vocês se salvam”. Essa era a minha avó Chiquita: meio ranzinza, não muito simpática, mas de uma coragem e firmeza de caráter admirável. Ela nunca imaginou o presente que me deu naquela noite escura. Em diversos momentos difíceis da minha vida, eu me lembrei da frase de vovó Chiquita: “nunca se esqueça: nós descendemos de gente corajosa”. De cabeça erguida, eu me mantive em pé nas batalhas que tive que enfrentar. Sem medo.
Tia May herdou a coragem, a determinação, e a tez morena de vovó Chiquita. E os olhos esverdeados, a eloqüência, a presença cativante, e o gosto pela boemia do seu pai, vovô Hermínio. Meu aprendizado com ela começou cedo. Ainda não tinha dez anos de idade quando eu pedi a ela um dinheiro para ir ao cinema. Pensei comigo: “vou pedir dinheiro só para o cinema, mas quem sabe ganho também um extra para a pipoca e o chocolate”. Ela olhou-me e me disse: “pedir dinheiro é uma coisa muito feia. Você tem que propor um trabalho para ganhá-lo.” Fiquei com muita vergonha. Emudeci. Então ela falou: “meu carro precisa ser lavado e meu escritório precisa ser arrumado. Você pode escolher o que prefere fazer”. Achei que lavar o carro seria mais divertido: e ganhei o dinheiro para o cinema, a pipoca e o chocolate. O meu primeiro emprego foi o de lavadora de carro! Posteriormente, passei à arrumação do escritório, e, quando estava um pouco “mais velha”, fazia um serviço aqui, outro acolá. Aos doze anos comprei o meu primeiro sutiã: com o meu dinheiro. Ele servia mais de enfeite, mas eu me senti muito, muito importante. Ao arrumar o escritório, comecei a folhear alguns dos seus livros, apenas por curiosidade. Após algum tempo tornei-me uma ávida leitora dos livros de literatura que lá se encontravam, principalmente dos românticos. Dos 13 aos 15 anos foi a época em que eu mais li em minha vida. Não lia menos que um romance por semana. Infelizmente, com o tempo esse hábito foi arrefecendo, e há muito tempo eu leio apenas jornais e revistas. Livros? só os relacionados à minha profissão. Os livros literários estão à minha espera em minha biblioteca: quem sabe alguma hora eu me anime a arrumá-los!
Mas, tia May também me “estragava”, como dizia meu pai. Em minha infância eu não conseguia ficar parada e era bem magra. Quando tia May estava em casa, e eu estava por lá, eu ficava “sem fome”. Preocupada com a minha falta de apetite, ela me perguntava o que eu estava com vontade de comer. Como naquela época não havia serviço de entrega, ela pegava o carro e me levava para comprar o almoço em algum dos pouquíssimos restaurantes existentes. Eu ficava muito feliz. E quando havia um prato em sua casa que eu gostava, ela telefonava e avisava que ia buscar-me para almoçar lá. Papai era linha dura e dizia que deveríamos comer o que estava à mesa. Com o tempo- e estudando num colégio ao lado de sua residência-, passei a almoçar cada vez com mais freqüência em sua casa durante a semana. Só de vez em quando eu “filava a bóia em casa”. Porém, aos domingos, papai fazia questão da família reunida, fosse onde fosse.
Tia May matava a minha mãe de susto quando aparecia num final de tarde para levar a mim e a minha irmã para tomar banho no rio Coxipó. Mamãe não queria ser estraga-prazer, mas ficava apavorada com medo de ocorrer algum incidente no rio. Ela sempre dizia à sua irmã: “cuide bem das minhas crianças”. E só parava de rezar quando nós voltávamos para casa. Quando tia May buzinava o seu carro em frente de casa e dizia “vistam os seus maiôs”, era uma festa!
Uma manhã de outubro levou para sempre a minha amada tia e as alegrias que ela- e a convivência em sua casa-, me proporcionava. A partir dessa data começou uma nova etapa em minha vida. O grande apoio nesse momento difícil veio do meu pai, que com a tranqüilidade de um homem pantaneiro, repetia: “tem que tocar a vida para a frente.” A minha mãe, que herdou a tez clara de vovô Hermínio e que possui expressivos olhos azuis, sempre foi uma mulher do lar: caseira, séria, e avessa às badalações, como vovó Chiquita. A morte da sua irmã abalou-a muito, mas o seu esposo- a quem era extremamente devotada-, estava ao seu lado. Isso tornou o seu fardo mais fácil. Porém, há pouco mais de 10 anos, o meu pai também partiu. Completamente dependente dele, ela não estava preparada para enfrentar as vicissitudes da vida sem o seu apoio. Mas, após algum tempo em que a tristeza e o desespero se abateram sobre ela, o sangue de vovó Chiquita correndo em suas veias mostrou toda a sua força. Ela tem sido uma guerreira.
Durante muitos anos, quando o mês de outubro começava, eu sentia uma certa melancolia. Até que um dia, uma tarantella veio se misturar ao meu rasqueado, e outubro trouxe para mim a maior alegria da minha vida: a minha filha, neta de cuiabanos tchapa e cruz, e de italianos, pelo lado paterno. Finalmente o sol voltara a brilhar para mim em outubro.
À minha “italianinha” cuiabana eu costumo dizer: “respeite a terra da Revolução Farroupilha - que também faz parte de sua história-, mas valorize este solo, onde jazem pessoas que amamos e que nos amaram. Nunca se esqueça: nós descendemos de gente corajosa! Que a coragem e a retidão de caráter sejam a sua herança.”
PS: À tia May (Ana Maria do Couto), pelos 40 anos do seu passamento, ocorrido em 17 de outubro de 1971.
Telma Cenira Couto da Silva, doutora em Astronomia
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