11 de outubro de 2011

MANIFESTO DO FORUM INTERSETORIAL DE SAÚDE MENTAL DE MATO GROSSO SOBRE A REATIVAÇÃO DO PRÉDIO DO ANTIGO “NEURO”


Nos últimos 10 anos a Política estadual de Saúde Mental em MT vinha caminhando lenta e
gradualmente na mesma direção da Política Nacional. Os profissionais que apresentavam trabalhos nos congressos nacionais e latinoamericanos relatando suas experiências de sucesso com a reinserção social de pacientes, com uma clínica afinada aos grandes centros de referência mundiais em Saúde Mental, eram sempre elogiados e premiados pelos profissionais de todos os outros Estados do Brasil.


Todas as ações da Política estadual estavam em congruência com a ampliação da rede de atenção psicossocial, que ocorreu entre o ano de 2002 a 2009, aumentado e melhorando a qualidade dos serviços substitutivos ao manicômio como os CAPS (colocando o estado com uma boa avaliação no ranking nacional), incentivando a implantação dos Núcleos de Apoio ao Programa Saúde da Família (NASFs), projeto que está apenas iniciando.
Toda essa política, é claro, sempre dependeu em grande parte da vontade dos gestores municipais,dependeu da adesão da sociedade civil a uma nova concepção do que é “ser normal”. O número de profissionais da saúde mental foi se ampliando e hoje este campo conta com a atuação de especialistas,pesquisadores, militantes que imbuídos pelo conhecimento técnico, pela experiência e o exercício político e científico elevaram a qualidade da atenção e conseqüentemente contribuem para uma melhor recuperação de
seus usuários.
É preciso de uma vez por todas entender que os transtornos mentais não têm cura (sob a perspectiva organicista). Além disso, não será uma internação, seja ela de quanto tempo for, que fará um sujeito em sofrimento passar a ser um sujeito “normal”, já que o sofrimento exige atenção integral e continuada; o tratamento precisa incluir a dificuldade de adesão, os impasses e os imprevistos que cada sujeito apresenta em sua singularidade.
Agora nos espanta o gestor estadual, em 9 meses ocupando a pasta, ostentar sua maior ação em saúde mental no Estado: ressuscitar o Manicômio. Valendo-se do sofrimento de inúmeras famílias que não sabem mais como tratar de seus entes queridos, que nunca souberam que seu maior direito era exigir serviços de atenção continuada e abertos, o governo do Estado anuncia aos quatro ventos que alugará um imóvel de
propriedade privada há 20 km do Centro de Cuiabá, com modelo arquitetônico de prisão, para aumentar o número de leitos psiquiátricos.
Nossos colegas psiquiatras, que sempre tiveram críticas à Reforma Psiquiátrica estão horrorizados com essa ação, mesmo não concordando com as condições atuais dos prédios do CIAPS. A Política Nacional preconiza a ABERTURA DE LEITOS PSIQUIÁTRICOS EM HOSPITAIS GERAIS. Os atuais prédios de internação do CIAPS Adauto Botelho estão sucateados por anos de descaso e falta de repasse dos recursos provindos do Ministério da Saúde. Isso deveria levar a uma ação de reforma dos prédios do Estado e não de um imóvel de propriedade privada.
Entendemos com essa ação que o que está sendo efetuado como grande feito para a sociedade é: “vamos varrer o lixo social para baixo do tapete, vamos tirar das ruas os marginais (loucos e drogaditos) e colocá-los bem longe para que não perturbem a paz”. Afinal somos o único Estado a instituir uma secretaria especial para lidar com o empreendedorismo que a Copa de 2014 necessita!
Além de espantoso, tudo isso nos indigna e o Fórum Intersetorial de Saúde Mental de MT convocam toda a sociedade a participar conosco em prol da Saúde Mental em MT no dia 10 de outubro (Dia Internacional da Saúde Mental) do ABRAÇO AO ADAUTO. Às 9 horas, em frente ao atual prédio da Unidade I, no COPHEMA, dentro do Parque Zé Boloflô.

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