22 de setembro de 2011

Pulsar do coração de estudante

ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ

Logo chegará a primavera trazendo flores, preparando brotos e frutos. Enquanto isso, exalto a "folha da juventude", de quem - para Milton Nascimento e Wagner Tiso - "já podaram seus momentos//Desviaram seu destino". Mas apesar disso, quiçá por isso, "renova-se a esperança" a cada "nova aurora". 
Hoje, presto homenagem aos estudantes; afinal, o mundo cai aos pedaços e eles estão de pé, lutando. Imagens de estudantes em luta invadem nossos olhares, renovando esperanças num mundo tão adverso e carrasco com os sonhos, tão impiedoso com os ideais, tão perverso e desonesto com as novas gerações. 
A violência contra estudantes chilenos é revoltante. Há mais de quatro meses, enfrentando aparato bélico, eles estão nas ruas daquele país, pioneiro do Neoliberalismo. Querem resgatar políticas públicas. Querem universidades gratuitas. Hoje, elas custam o equivalente entre cinco e oito mil reais/ano. A determinação daqueles jovens é lição de cidadania para o mundo. Estão fazendo História com "H" maiúsculo. 
Mas nem só no Chile se luta. Com as demandas que nos são próprias, nossos estudantes também fazem sua parte. Desde a luta por passe livre, pela não-privatização de serviços públicos, como água e esgoto, até pontos mais complexos, como a manutenção das universidades públicas como públicas, gratuitas e de qualidade, vemos de tudo. E tudo servindo de exemplo a adultos acomodados e acovardados, como a tantos professores que inviabilizaram a greve nacional das universidades federais. 
Muitos docentes, deveras oportunistas, optaram por continuar contando estórias para boi dormir a seus alunos, como se nada estivesse fora de ordem. Esse tipo de docente repassa aos jovens lições de culto à individualidade; resgata a abominável "Lei de Gérson": incentivo de se levar vantagem (pessoal) em tudo. É isso o que eles próprios já fazem, mas cinicamente usando espaços e recursos públicos. Esse tipo nunca deveria ser professor, muito menos de universidade pública. 
Na UFMT, os acadêmicos - como segmento - demonstram respeito pela greve que deflagramos no dia 24 de agosto; compreenderam que a qualidade do ensino já é dívida social, principalmente após o processo de expansão, chamado REUNI, sem as devidas condições. 
Como exemplo dessa compreensão, cito a Carta Pública do Centro Acadêmico de Biologia, na qual dizem: "percebemos que o descaso do governo com as reivindicações dos professores e técnicos (concursos públicos, principalmente) é o mesmo que envolve as demandas da assistência estudantil...". Logo, concluem: "...observamos um cenário de diminuição de custos para a Universidade pública..." 
Já num e-mail que recebi de um acadêmico de Contábeis, ele me diz: "mesmo estando no último semestre e com o TCC pronto, apoiei a greve". Ele entende "que os ideais pelos quais os professores lutam são importantes".
Vislumbrando o futuro, o jovem acadêmico sugere: "Amanhã é meu filho quem estará numa universidade e se esta não for valorizada poderá até lá ter sido privatizada". Faz ainda vibrante depoimento: "Há um mês eu também estava em greve. Sou funcionário do Detran; e nossa greve foi declarada ilegal, mas conseguimos fazer história. Chego a me emocionar, 'pois nunca antes na história'... do Detran isso tinha acontecido". 
Esses exemplos - sim - são aulas de História, e com "H" maiúsculo, que deveriam matar de vergonha professores com "p" minúsculo. São exemplos de corações de estudantes pulsando por um País com "P" maiúsculo. São nossas primaveras humanizadas! 


ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Ciência da Comunicação/USP e professor da UFMT.
rbventur26@yahoo.com.br

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