O Rodas da Cidadania abraça e através desse texto homenageia todas as mães pelo seu dia.
Era amarelo.
Era todo amarelo o quintal da casa onde cresci. Era amarelo e havia um pé de flores amarelas.
Me lembro de mim, desde sempre, correndo sobre o ouro do quintal.
Amarelo-dourado era o sol, a espernear sobre as pedras, quarando lençóis.
As minhas quedas bruscas eram também amarelas. E a baba do cachorro doido, do qual eu sempre devia fugir. De vez em quando eu o via, para lá do meu quintal. Parecia sempre o mesmo, mas havia muitos cachorros endoidando no redemoinho amarelo.
Ata, fruta-de-conde, pinha: fruto de vida dourada, comido no pé. O verde é o fruto da terra e o amarelo é o fruto do sol. Pintávamos de amarelo as descobertas. Nós, os sóis.
O amarelo é uma cor que não passa como as outras cores passam. Enquanto as outras cores desbotam, o amarelo, com o tempo... Amarela. Do amarelo se fez o mar onde deságuam lembranças. Pinto este amarelo que vivo do quintal com gotas de memória. Pingo essência dourada e desenho na areia os contornos deste jogo de amarelinha. Meu quintal era o céu, todo feito de nuvens amarelas.
Lembro-me disso e de minha mãe que pintava minha vida. Em cada manhã de colo sagrado e olho terno.
Ela se tingia de um amarelo intenso.
No meu quintal, mesmo os dias sem sol eram dourados
O quintal não havia descoberto a noite.
Só descobriu a noite quando minha mãe se foi. E deixou em mim o amarelo da saudade.
A sua mãe também pode ser colorida, se você assim a enxergar. Ela pode tingir sua vida da cor que você quiser e você será o papel onde ela desenhará a vida.
E se você é mãe, pode pintar a vida de seu filho. E quando ele crescer, ele terá um colorido diferente e especial.
E um dia,quando você se tornar saudade,terá seu filho ou filha lembrando suas cores.
E se ela também se foi, tente imaginar a cor que ela te deixou,seja em uma palavra, um ensinamento ou a dedicação.
Através desse texto quero apenas agradecer minha mãe por cada instante que ela colocou poesia em minha vida e me fez enxergar um mundo colorido, hoje um pouco sem cor, sem ela.
Quem tiver sua mãe por perto, dê um abraço, que é ele o que falta para repor tintas na vida dela.
Você, de alguma forma, é a cor da vida dela.
Faça com que, em cada instante de sua vida valha a pena ser filho.
Mariana Gouveia
Um comentário:
Querida Mariana, texto belíssimo! Parabéns!
Postar um comentário